terça-feira, 5 de janeiro de 2010

País tem pior saldo comercial em sete anos

Baque no saldo comercial

A crise financeira internacional e a desvalorização do dólar ante o real
fizeram com que a balança comercial brasileira fechasse 2009 com um superávit de US$ 24,615 bilhões — o menor saldo positivo desde 2002, quando o montante apurado foi de US$ 13,196 bilhões. Com isso, o país teve em 2009 o pior resultado do seu comércio exterior no governo Lula. As exportações somaram US$ 152,252 bilhões, com queda de 22,2% em relação a 2008, enquanto as importações, de US$ 127,637 bilhões, registraram uma redução ainda maior, de 25,3%.

Com isso, o país perdeu mais de US$ 91 bilhões em corrente de comércio (soma das vendas com as compras externas), que caiu de US$ 370,928 bilhões em 2008 para US$ US$ 279,889 bilhões em 2009.

A queda de 22,2% das exportações, pelo critério de média diária (US$ 609 milhões), foi o maior tombo desde 1952, quando a retração registrada foi de 19,8%. A série histórica para os dados de balança comercial do Brasil foi iniciada em 1950. Na média diária importada, de US$ 510,5 milhões, a taxa de redução só não superou a de 1953, quando o percentual negativo ficou em 36,8%.

Num corte mais próximo da realidade atual, as exportações só caíram duas vezes desde a década de 1990, por causa das crises russa e asiática: 3,4% em 1998 e 6,11% em 1999.

Ao divulgar ontem os dados fechados da balança comercial brasileira de 2009, o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, afirmou que os números são preocupantes. Ele destacou a queda nas exportações de produtos manufaturados, sobretudo para mercados consumidores importantes, como Estados Unidos e América Latina. A participação dessa categoria de produtos na pauta exportadora caiu de 46,8% em 2008 para 43,7% no ano passado.

— Isso preocupa, porque o produto manufaturado gera mais empregos para o país e agrega maior valor — disse o secretário, acrescentando que o Brasil precisa recuperar rapidamente os mercados perdidos.

China supera EUA e se torna principal destino

No ano, a China superou, pela primeira vez, os EUA no ranking dos principais destinos de produtos brasileiros, respondendo por R$ 19,9 bilhões das exportações do Brasil. As vendas para o mercado americano, comprador importante de insumos industriais, caíram de US$ 27,6 bilhões em 2008 para US$ 15,7 bilhões em 2009. As vendas para a Argentina diminuíram de US$ 17,6 bilhões para US$ 12 bilhões no mesmo período.

Apesar de afirmar que 2010 será um ano melhor para as exportações brasileiras, projetadas em US$ 168 bilhões, sob o argumento de que as perspectivas apontam pequena recuperação da economia mundial, Barral listou três grandes obstáculos à retomada das vendas externas: a competitividade dos mercados compradores (item no qual o real valorizado tem grande influência); a carga tributária elevada e o próprio comportamento da economia doméstica, que continua aquecida e absorvendo boa parte da produção.

— Se além do câmbio, você coloca imposto em cima, não tem condições de exportar mais — disse Barral.

Sem solução concreta à vista, conforme admitiu Barral, já que a reforma tributária não será aprovada neste governo, o secretário disse que o governo brasileiro vai investir em acordos bilaterais, principalmente com os EUA, no sentido de facilitar o comércio e os investimentos. Há também intenção de ampliar o regime de drawback (isenção de impostos para insumos usados na produção de bens exportáveis), além de estimular mais empresas a recorrer a este sistema.

Barral considerou normal a queda nas importações e positivo o saldo comercial de 2009, lembrando que foi um ano de crise. Enfatizou ainda que, quando as estatísticas forem revisadas, o superávit poderá se igualar ao registrado em 2008, que foi de US$ 24,956 bilhões.

O valor de 2009 será aumentado em cerca de US$ 300 milhões, devido a exportações de energia elétrica para a Argentina. Como as informações fornecidas pelo país vizinho não batiam com os dados do governo brasileiro, as vendas ficaram de fora do balanço, explicou.

— O que se pode dizer é que as commodities foram fundamentais para a formação do superávit comercial em 2009 — disse o vicepresidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Em dezembro, a balança comercial registrou superávit de US$ 1,435 bilhões, resultado de exportações de US$ 13,720 bilhões e importações de US$ 12,285 bilhões.

Na avaliação da Consultoria Tendências, haverá recuperação nas exportações também nas importações brasileiras em 2010, com o país obtendo um saldo comercial ainda elevado, da ordem de US$ 20 bilhões.

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