quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Familiares gastadores: como lidar com eles e fazê-los economizar mais?

A situação é comum para muitas famílias brasileiras: com o orçamento apertado, é necessário diminuir os gastos, mas alcançar o equilíbrio financeiro é muito mais difícil do que se esperava. Isso porque, embora alguns membros se esforcem para diminuir os gastos, outros não conseguem ter a mesma iniciativa, prejudicando as contas da casa.

Para a consultora em saúde financeira Suyen Miranda, é possível adotar algumas medidas para lidar com essas pessoas e fazer com que contribuam mais na economia de dinheiro.

Filhos consumistas - Se falta ajuda dos filhos adolescentes para gastar menos e reduzir as despesas, a dica é conversar com eles de forma amigável, sem o tom de dono da verdade, para explicar que as contas de consumo são maiores do que a entrada de dinheiro.

"Noto que é raro o adolescente que tem uma visão clara de quanto as coisas da casa custam, pois os pais raramente compartilham dados sobre o preço da escola, da luz, etc e isso faz com que os filhos acreditem que há um depositário sem fim de dinheiro para bancar tudo isso. E eles não pensam assim por mal, simplesmente porque não foram estabelecidos limites claros no tocante a dinheiro", explica.

Já se os filhos, ou até mesmo o cônjuge, só pensam em comprar coisas de marcas, caras e modernas, é necessário explicar que, antes de gastar, é preciso planejar a compra. "Ninguém pode comprar tudo o que quer na hora que quer, mesmo quando tem recursos para isso, pois, antes de tudo, quem lida bem com o dinheiro tem controle e planejamento para a realização de seus objetivos", diz a consultora.

Ela também lembra que isso vale para o jovem que recebe mesada, pois quanto mais cedo for modificado esse comportamento, mais aumentam as chances de ter uma vida financeiramente saudável.

Já se o descontrole vem do cônjuge, a conversa franca e direta é a dica de Suyen. "Vale o parceiro tomar a iniciativa de mostrar que as contas da casa estão num patamar, e que o consumo desenfreado ou mesmo não planejado tem afetado não só as contas, mas principalmente o emocional de quem está bancando tudo isso", explica.

fonte: InfoMoney

Ondas Eletromagnéticas de Celulares podem diminuir mal de Alzheimer

Pesquisa utilizou ratos expostos 1 a 2 horas por dia durante 7 a 9 meses.
Exposição reduziu acúmulo de proteína beta-amilóide, indicador da doença.
As pessoas que gastam horas todos os dias no telefone celular podem ter uma nova desculpa para tagarelar. Um novo estudo feito com ratos dá a primeira evidência de que a exposição às ondas eletromagnéticas associadas ao uso do aparelho podem proteger da doença de Alzheimer e até mesmo reverter seu desenvolvimento.

O estudo, conduzido por pesquisadores do Florida Alzheimer's Disease Research Center (ADRC), da Universidade do Sul da Flórida, foi publicado nesta quarta-feira (6) no “Journal of Alzheimer's Disease”.


Foi ainda mais surpreendente verificar que as ondas eletromagnéticas geradas pelos aparelhos celulares reverteram as debilidades na memória de ratos mais velhos com a doença"
“Ficamos surpresos ao concluir que a exposição ao telefone celular, iniciada cedo na idade adulta, protege a memória de ratos destinados a desenvolver o mal de Alzheimer”, afirmou Gary Arendash, autor da pesquisa. “Foi ainda mais surpreendente verificar que as ondas eletromagnéticas geradas pelos aparelhos celulares reverteram as debilidades na memória de ratos mais velhos com a doença.”

Os pesquisadores mostraram que a exposição de ratos mais velhos às ondas eletromagnéticas reduziu o acúmulo danoso da proteína beta-amilóide em áreas do cérebro, além de prevenir o acúmulo em ratos jovens.

As placas formadas pelo acúmulo anormal da proteína são as marcas da doença. Muitos dos tratamentos contra Alzheimer são focados nessa proteína.

No estudo, os cientistas conseguiram isolar os efeitos para o cérebro da exposição ao telefone celular de outros fatores, como a dieta e exercícios. Foram analisados 96 ratos, muitos deles geneticamente modificados para desenvolver o acúmulo de placas de beta-amilóide.
Alguns dos ratos não tinham nenhum tipo de demência e não passaram por alterações genéticas para o desenvolvimento da doença. Dessa forma, os pesquisadores puderam analisar os efeitos das ondas eletromagnéticas em cérebros normais.
Exposição
Cada animal dos dois grupos de cobaias foram expostos a um campo eletromagnético equivalente ao gerado por um telefone celular padrão durante uma a duas horas por dia, por um período de sete a nove meses.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sancionada lei brasileira que estabelece Política Nacional de Mudanças Climáticas

Mudanças Climáticas


Sancionada lei que estabelece Política Nacional de Mudanças Climáticas


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que estabelece a Política Nacional de Mudanças Climáticas. A proposta aprovada pelo Congresso teve três vetos. A lei foi publicada ontem, 29/12, em edição extra do Diário Oficial da União.



A lei que estabelece a Política Nacional de Mudanças Climáticas mantém a meta de redução das emissões nacionais de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020.

· Confira abaixo :

____________________

LEI Nº 12.187, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2009



Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC e dá outras providências.

O P R E S I D E N T E D A R E P Ú B L I C A

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC e estabelece seus princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos.

Art 2º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - adaptação: iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima;

II - efeitos adversos da mudança do clima: mudanças no meio físico ou biota resultantes da mudança do clima que tenham efeitos deletérios significativos sobre a composição, resiliência ou produtividade de ecossistemas naturais e manejados, sobre o funcionamento de sistemas socioeconômicos ou sobre a saúde e o bem-estar humanos;

III - emissões: liberação de gases de efeito estufa ou seus precursores na atmosfera numa área específica e num período determinado;

IV - fonte: processo ou atividade que libere na atmosfera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de efeito estufa;

V - gases de efeito estufa: constituintes gasosos, naturais ou antrópicos, que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação infravermelha;

VI - impacto: os efeitos da mudança do clima nos sistemas humanos e naturais;

VII - mitigação: mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros;

VIII - mudança do clima: mudança de clima que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis;

IX - sumidouro: processo, atividade ou mecanismo que remova da atmosfera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de efeito estufa; e

X - vulnerabilidade: grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema, em função de sua sensibilidade, capacidade de adaptação, e do caráter, magnitude e taxa de mudança e variação do clima a que está exposto, de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos.

Art. 3º A PNMC e as ações dela decorrentes, executadas sob a responsabilidade dos entes políticos e dos órgãos da administração pública, observarão os princípios da precaução, da prevenção, da participação cidadã, do desenvolvimento sustentável e o das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, este último no âmbito internacional, e, quanto às medidas a serem adotadas na sua execução, será considerado o seguinte:

I - todos têm o dever de atuar, em benefício das presentes e futuras gerações, para a redução dos impactos decorrentes das interferências antrópicas sobre o sistema climático;

II - serão tomadas medidas para prever, evitar ou minimizar as causas identificadas da mudança climática com origem antrópica no território nacional, sobre as quais haja razoável consenso por parte dos meios científicos e técnicos ocupados no estudo dos fenômenos envolvidos;

III - as medidas tomadas devem levar em consideração os diferentes contextos socioeconômicos de sua aplicação, distribuir os ônus e encargos decorrentes entre os setores econômicos e as populações e comunidades interessadas de modo equitativo e equilibrado e sopesar as responsabilidades individuais quanto à origem das fontes emissoras e dos efeitos ocasionados sobre o clima;

IV - o desenvolvimento sustentável é a condição para enfrentar as alterações climáticas e conciliar o atendimento às necessidades comuns e particulares das populações e comunidades que vivem no território nacional;

V - as ações de âmbito nacional para o enfrentamento das alterações climáticas, atuais, presentes e futuras, devem considerar e integrar as ações promovidas no âmbito estadual e municipal por entidades públicas e privadas;

VI - (VETADO)

Art. 4º A Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC visará:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a proteção do sistema climático;

II - à redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa em relação às suas diferentes fontes;

III - (VETADO);

IV - ao fortalecimento das remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa no território nacional;

V - à implementação de medidas para promover a adaptação à mudança do clima pelas 3 (três) esferas da Federação, com a participação e a colaboração dos agentes econômicos e sociais interessados ou beneficiários, em particular aqueles especialmente vulneráveis aos seus efeitos adversos;

VI - à preservação, à conservação e à recuperação dos recursos ambientais, com particular atenção aos grandes biomas naturais tidos como Patrimônio Nacional;

VII - à consolidação e à expansão das áreas legalmente protegidas e ao incentivo aos reflorestamentos e à recomposição da cobertura vegetal em áreas degradadas;

VIII - ao estímulo ao desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões - MBRE.

Parágrafo único. Os objetivos da Política Nacional sobre Mudança do Clima deverão estar em consonância com o desenvolvimento sustentável a fim de buscar o crescimento econômico, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais.

Art. 5º São diretrizes da Política Nacional sobre Mudança do Clima:

I - os compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, no Protocolo de Quioto e nos demais documentos sobre mudança do clima dos quais vier a ser signatário;

II - as ações de mitigação da mudança do clima em consonância com o desenvolvimento sustentável, que sejam, sempre que possível, mensuráveis para sua adequada quantificação e verificação a posteriori;

III - as medidas de adaptação para reduzir os efeitos adversos da mudança do clima e a vulnerabilidade dos sistemas ambiental, social e econômico;

IV - as estratégias integradas de mitigação e adaptação à mudança do clima nos âmbitos local, regional e nacional;

V - o estímulo e o apoio à participação dos governos federal, estadual, distrital e municipal, assim como do setor produtivo, do meio acadêmico e da sociedade civil organizada, no desenvolvimento e na execução de políticas, planos, programas e ações relacionados à mudança do clima;

VI - a promoção e o desenvolvimento de pesquisas científico-tecnológicas, e a difusão de tecnologias, processos e práticas orientados a:

a) mitigar a mudança do clima por meio da redução de emissões antrópicas por fontes e do fortalecimento das remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa;

b) reduzir as incertezas nas projeções nacionais e regionais futuras da mudança do clima;

c) identificar vulnerabilidades e adotar medidas de adaptação adequadas;

VII - a utilização de instrumentos financeiros e econômicos para promover ações de mitigação e adaptação à mudança do clima, observado o disposto no art. 6º;

VIII - a identificação, e sua articulação com a Política prevista nesta Lei, de instrumentos de ação governamental já estabelecidos aptos a contribuir para proteger o sistema climático;

IX - o apoio e o fomento às atividades que efetivamente reduzam as emissões ou promovam as remoções por sumidouros de gases de efeito estufa;

X - a promoção da cooperação internacional no âmbito bilateral, regional e multilateral para o financiamento, a capacitação, o desenvolvimento, a transferência e a difusão de tecnologias e processos para a implementação de ações de mitigação e adaptação, incluindo a pesquisa científica, a observação sistemática e o intercâmbio de informações;

XI - o aperfeiçoamento da observação sistemática e precisa do clima e suas manifestações no território nacional e nas áreas oceânicas contíguas;

XII - a promoção da disseminação de informações, a educação, a capacitação e a conscientização pública sobre mudança do clima;

XIII - o estímulo e o apoio à manutenção e à promoção:

a) de práticas, atividades e tecnologias de baixas emissões de gases de efeito estufa;

b) de padrões sustentáveis de produção e consumo.

Art. 6º São instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima:

I - o Plano Nacional sobre Mudança do Clima;

II - o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima;

III - os Planos de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento nos biomas;

IV - a Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, de acordo com os critérios estabelecidos por essa Convenção e por suas Conferências das Partes;

V - as resoluções da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima;

VI - as medidas fiscais e tributárias destinadas a estimular a redução das emissões e remoção de gases de efeito estufa, incluindo alíquotas diferenciadas, isenções, compensações e incentivos, a serem estabelecidos em lei específica;

VII - as linhas de crédito e financiamento específicas de agentes financeiros públicos e privados;

VIII - o desenvolvimento de linhas de pesquisa por agências de fomento;

IX - as dotações específicas para ações em mudança do clima no orçamento da União;

X - os mecanismos financeiros e econômicos referentes à mitigação da mudança do clima e à adaptação aos efeitos da mudança do clima que existam no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e do Protocolo de Quioto;

XI - os mecanismos financeiros e econômicos, no âmbito nacional, referentes à mitigação e à adaptação à mudança do clima;

XII - as medidas existentes, ou a serem criadas, que estimulem o desenvolvimento de processos e tecnologias, que contribuam para a redução de emissões e remoções de gases de efeito estufa, bem como para a adaptação, dentre as quais o estabelecimento de critérios de preferência nas licitações e concorrências públicas, compreendidas aí as parcerias público-privadas e a autorização, permissão, outorga e concessão para exploração de serviços públicos e recursos naturais, para as propostas que propiciem maior economia de energia, água e outros recursos naturais e redução da emissão de gases de efeito estufa e de resíduos;

XIII - os registros, inventários, estimativas, avaliações e quaisquer outros estudos de emissões de gases de efeito estufa e de suas fontes, elaborados com base em informações e dados fornecidos por entidades públicas e privadas;

XIV - as medidas de divulgação, educação e conscientização;

XV - o monitoramento climático nacional;

XVI - os indicadores de sustentabilidade;

XVII - o estabelecimento de padrões ambientais e de metas, quantificáveis e verificáveis, para a redução de emissões antrópicas por fontes e para as remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa;

XVIII - a avaliação de impactos ambientais sobre o microclima e o macroclima.

Art. 7º Os instrumentos institucionais para a atuação da Política Nacional de Mudança do Clima incluem:

I - o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima;

II - a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima;

III - o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima;

IV - a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais - Rede Clima;

V - a Comissão de Coordenação das Atividades de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia.

Art. 8º As instituições financeiras oficiais disponibilizarão linhas de crédito e financiamento específicas para desenvolver ações e atividades que atendam aos objetivos desta Lei e voltadas para induzir a conduta dos agentes privados à observância e execução da PNMC, no âmbito de suas ações e responsabilidades sociais.

Art. 9º O Mercado Brasileiro de Redução de Emissões - MBRE será operacionalizado em bolsas de mercadorias e futuros, bolsas de valores e entidades de balcão organizado, autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, onde se dará a negociação de títulos mobiliários representativos de emissões de gases de efeito estufa evitadas certificadas.

Art. 10. (VETADO)

Art. 11. Os princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos das políticas públicas e programas governamentais deverão compatibilizar-se com os princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos desta Política Nacional sobre Mudança do Clima.

Parágrafo único. Decreto do Poder Executivo estabelecerá, em consonância com a Política Nacional sobre Mudança do Clima, os Planos setoriais de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas visando à consolidação de uma economia de baixo consumo de carbono, na geração e distribuição de energia elétrica, no transporte público urbano e nos sistemas modais de transporte interestadual de cargas e passageiros, na indústria de transformação e na de bens de consumo duráveis, nas indústrias químicas fina e de base, na indústria de papel e celulose, na mineração, na indústria da construção civil, nos serviços de saúde e na agropecuária, com vistas em atender metas gradativas de redução de emissões antrópicas quantificáveis e verificáveis, considerando as especificidades de cada setor, inclusive por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL e das Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas - NAMAs.

Art. 12. Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020.

Parágrafo único. A projeção das emissões para 2020 assim como o detalhamento das ações para alcançar o objetivo expresso no caput serão dispostos por decreto, tendo por base o segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, a ser concluído em 2010.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 29 de dezembro de 2009; 188º da Independência e 121º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Nelson Machado
Edison Lobão
Paulo Bernardo Silva
Luís Inácio Lucena Adams

A cruzada para negar o aquecimento global

04/01/2010 - 05h01

Por Ladislau Dowbor *


Não há dúvidas sobre o aquecimento global, nem sobre o peso das atividades humanas na sua geração. No entanto, depois de dois anos de uma gigantesca campanha de mídia, envolvendo também a criação de ONGs fajutas e de movimentos aparentemente “grass-root”, portanto “espontâneas e comunitárias”, e sobre tudo listagens de cientístas “céticos” visando dar impressão de “quantidade”, temos resultados, e para os grupos do petróleo, do carvão e semelhantes, terá valido a pena. Segundo a revista britânica The Economist, a proporção de americanos que achavam existir evidências sólidas de aumento das temperaturas globais caiu de 71% em abril de 2008 para 57% em outubro de 2009 (Carta Capital, 16/12/2009, página 48)

O estudo de James Hoggan (Climate cover-up: The cruzade to deny global warming) não é sobre o clima, mas sobre comunicação, e consiste essencialmente em mapear como a campanha foi montada e como hoje funciona. A articulação é poderosa, envolvendo instituições conservadoras como o George C. Marshall Institute, o American Enterprise Institute (AEI), o Information Council for Environment (ICE), o Fraser Institute, o Competitive Enterprise Institute (CEI), o Heartland Institute, e evidentemente o American Petroleum Institute (API) e o American Coalition for Clean Coal Electricity (ACCCE), além do Hawthorne Group e tantos outros. Sempre petróleo, carvão, produtores de carros, muitos republicanos e a direita religiosa.

Os grandes grupos corporativos aparecem mais discretamente, com exceção da ExxonMobil que inundou com dinheiro o mercado de consultoria e de comunicação. Este “inundou”, naturalmente, é um conceito relativo: são centenas de milhões de dólares, mas New Scientist lembra que “as empresas de petróleo têm vastos lucros. Só a ExxonMobil lucrou US$ 45 bilhões em 2008. Em um mundo sano, certamente encontraríamos uma maneira de desviar um pouco deste dinheiro para resolver os problemas que o próprio petróleo está gerando. A questão é: estamos vivendo num mundo sano?” (NS, 5/12/2010, p. 5) Não custa lembrar que estas empresas não “produzem” petróleo, e sim extraem e comercializam um bem herdado da natureza que está acabando.

Em termos de personagens, encontraremos os das causas conservadoras e muitos personagens “flexíveis”, como Frank Luntz, Christopher Walker, Fred Singer, Patrick Michaels, Arthur Robinson, Steven Milloy, Benny Peiser e numerosos outros, além da eterna estrela do “contra”, o dinamarquês Lomborg, que graças à sua disponibilidade anti-clima ganha financiamentos para incessantes palestras.

Profissionais das relações públicas (sim, o nome é este) estão sempre presentes. Hoggan, o autor deste estudo, é um profissional de relações públicas e conhece profundamente como funciona a indústria da construção e da destruição das reputações de pessoas ou de causas. Isso o levou a fazer o presente levantamento detalhado de como se estrutura, com o impressionante poder das tecnologias modernas de comunicação, a manipulação da opinião pública. Independentemente da causa, no caso o drama do aquecimento global, o que é muito interessante no livro é entender esta indústria da desinformação.

Naomi Oreskes organizou uma meta-pesquisa, com o buscador “mudança climática global”, e limitada a artigos revistos por pares (peer review). Encontrou 928 artigos, nenhum colocando dúvidas sobre a realidade do processo climático. Nos jornais, no entanto, comentando a pesquisa, 53% dos artigos, buscaram ouvir “os dois lados”, e colocaram de maneira equilibrada opiniões de contestadores. Zero porcento de artigos científicos contestadores sobre o processo climático em si, mas nos jornais aparecia como “um tema em discussão”. O que era o objetivo. O tema está em discussão, afirmam gravemente os grandes grupos geradores do aquecimento (não diretamente, sempre por meio de listas de livre inscrição), portanto o assunto “é controverso”. Os “céticos” passam a se apresentar não como contestadores do fenômeno, mas como os que têm uma visão equilibrada, sem extremismos, portanto acreditam que talvez haja um problema, mas temos de ser ponderados, e adiar decisões.

No caso de Naomi Oreskes, é curioso, pois um Dr. Benny Peiser, professor de educação física (esporte mesmo, não física), realizou uma pesquisa sobre “mudança climática” (e não “mudança climática global”) e apresentou uma lista não de 928 artigos, mas de mais de 12 mil. Portanto, os 928 representariam apenas uma pequena parcela das opiniões. Os jornais, devidamente estimulados (a Fox em particular, naturalmente), fizeram alarde. Faltava demonstrar que os 12 mil tinham opinião contrária. Pressionado por revistas científicas que se recusavam a publicar o seu artigo, Peiser conseguiu localizar 34 artigos “que rejeitam ou duvidam da visão de que as atividades humanas são a principal causa do aquecimento observado nos últimos 50 anos”. Pressionado ainda para mostrar os artigos e os argumentos científicos em artigos “peer reviewed”, Peiser finalmente chegou a um artigo científico de contestação. Não era revisto por pares, e foi publicado na American Association of Petroleum Geologists. (102)

Tudo isto, evidentemente, amplamente divulgado, em particular por redes de institutos empresariais conservadores, utilizando em parte os mesmos grupos de relações públicas utilizados nas campanhas de caça-voto dos republicanos, e apoiados nas tecnologias de ampla divulgação como youtube. O resultado de tudo? Frente a tanta celeuma, os grupos interessados puderam passar a dar entrevistas “equilibradas”, pois estaria claro que “há controvérsias”. Que era o único objetivo da campanha. Não de negar o inegável, mas de dar a entender que as pessoas comedidas, equilibradas, não vão fazer nada, e muito menos pressionar os agentes do aquecimento global.

O livro é muito instrutivo para quem lida com comunicação, com teoria dos lobbies, com manipulação política. O próprio Hoggan menciona como é cansativo, a cada vez que aparece um cientista de peso mencionado no grupo “cético”, fazer circular a carta de denegação do cientista, ou destrinchar uma lista de milhares de “opositores” para ver se há no meio alguém que realmente tenha feito alguma pesquisa sobre a única coisa finalmente relevante, que não é a “opinião”, e sim dados científicos novos que provem algo diferente. E depois tentar fazer circular a informação de que a “notícia” afinal não era notícia, isto numa mídia onde as corporações financiam a publicidade.

Uma pérola entre os argumentos e uma das mais utilizadas: “Como os cientistas dizem que podem prever o clima dentro de 50 anos se não são capazes de prever a chuva de amanhã”. Como se meteorologia e estudos climáticos fossem da mesma área. Um britânico pode não saber se vai nevar amanhã, mas sabe perfeitamente prever que vai chegar o inverno e o frio correspondente, e não hesita em comprar um casaco. Mas o argumento pega e se apoia numa fragilidade que é de todos nós: se nos dão um argumento que confirma a opinião que já estávamos propensos a ter, qualquer estribo vale.

O estudo bem poderia ser traduzido e utilizado para os nossos próprios problemas, como por exemplo o peso da bancada ruralista na opinião pública, ou as campanhas orquestradas pela Febraban, ou ainda a campanha contra a proibição de armas de fogo individuais, estribadas no “direito de se defender” e até na “liberdade”. Nos Estados Unidos, temos precedentes interessantes e igualmente desastrosos tanto no caso das armas, como na batalha das grandes empresas de saúde privada aliadas com o “Big Pharma” para tentar travar o direito de acesso a serviços de saúde, sem falar das gigantescas campanhas das empresas de cigarros.

O último livro de Robert Reich, aliás, Supercapitalim, também trata desta apropriação dos processos políticos pelas corporações. O filme O Informante mostra como isto se deu com a indústria do cigarro, enquanto The Corporation explicita o mecanismo de maneira ampla. Marcia Angell fez um excelente estudo dos procedimentos equivalentes na indústria farmacêutica (em português, A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos). A própria desinformação se transformou numa indústria. É a indústria da opinião pública.
No caso da mudança climática, como qualificar a dimensão ética do que constitui uma clara compra de opiniões? Ou os ataques impressionantes das empresas de advocacia das corporações, que processam qualquer pessoa que ouse sugerir que uma opinião poderia envolver não a verdade mas interesses corporativos? O liberalismo tem uma concepção curiosa da liberdade.

* Ladislau Dowbor, é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e da UMESP, e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de “Democracia Econômica”, “A Reprodução Social”, “O Mosaico Partido”, pela editora Vozes, além de “O que Acontece com o Trabalho?” (Ed. Senac) e co-organizador da coletânea “Economia Social no Brasil“ (ed. Senac) Seus numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social estão disponíveis no site http://dowbor.org&rsquo

A hora e a vez da ecologia mental

05/01/2010 - 03h01

Por Leonardo Boff*


No dia 2 de fevereiro de 2007 ao ouvir em Paris os resultados acerca do aquecimento global dados a conhecer pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) o então Presidente Jacques Chirac disse:”Como nunca antes, temos que tomar a palavra revolução ao pé da letra. Se não o fizermos o futuro da Terra e da Humanidade é posto em risco”. Outras vozes já antes, como a de Gorbachev e de Claude Levy Strauss pouco antes de morrer. advertiam: “ou mudamos de valores civilizatórios ou a Terra poderá continuar sem nós”.

Esse é o ponto ocultado nos forums mundiais, especialmente o de Copenhague. Se for reconhecido abertamente, ele implica uma autocondenação do tipo de produção e de consumo com sua cultura mundialmente vigente. Não basta que o IPCC diga que, em grande parte, o aquecimento agora irreversível é produzido pelos seres humanos. Essa á uma generalização que esconde os verdadeiros culpados: são aqueles homens e mulheres que formularam, implantaram e globalizaram o modo de produção de bens materiais e os estilos de consumo que implicam depredação da natureza, clamorosa falta de solidariedade entre as atuais e as futuras gerações.

Pouco adianta gastar tempo e palavras para encontrar soluções técnicas e políticas para a diminuição dos níveis de gases de efeito estufa se mantivermos este tipo de civilização. É como se uma voz dissesse: “pare de fumar, caso contrário vai morrer”; e outra dissesse o contrario: “continue fumando, pois ajuda a produção que ajuda criar empregos que ajudam garantir os salários que ajudam o consumo que ajuda aumentar o PIB”. E assim alegremente, como nos tempos do velho Noé, vamos ao encontro de um dilúvio pré-anunciado.

Não somos tão obtusos a ponto de dizer que não precisamos de política e de técnica. Precisamos muito delas. Mas é ilusório pensar que nelas está a solução. Elas devem ser incorporadas dentro de um outro paradigma de civilização que não reproduza as perversidades atuais. Por isso, não basta uma ecologia ambiental que vê o problema no ambiente e na Terra. Terra e ambiente não são o problema. Nós é que somos o problema, o verdadeiro Satã da Terra quando deveríamos ser seu Anjo da Guarda. Então: importa fazer, consoante Chirac, uma revolução. Mas como fazer uma revolução sem revolucionários?

Estes precisam ser suscitados. E que falta nos faz um Paulo Freire ecológico! Ele sabiamente dizia algo que se aplica ao nosso caso:”Não é a educação que vai mudar o mundo. A educação vai mudar as pessoas que vão mudar o mundo”. Precisamos destas pessoas revolucionárias, caso contrario, preparemo-nos para o pior, porque o sistema imperante é totalmente alienado, estupificado, arrogante e cego diante de seus próprios defeitos. Ele é a treva e não a luz do túnel em que nos metemos.

É neste contexto que invocamos uma das quatro tendências da ecologia (ambiental, social, mental, integral): a ecologia mental. Ela trabalha com aquilo que perpassa a nossa mente e o nosso coração. Qual é a visão de mundo que temos? Que valores dão rumo à nossa vida? Cultivamos uma dimensão espiritual? Como nos devemos relacionar com os outros e com a natureza? Que fazemos para conservar a vitalidade e a integridade de nossa Casa Comum, a Mãe Terra?

Não dá em poucas linhas traçar o desenho principal da ecologia mental, coisa que fizemos um inúmeras obras e vídeos. O primeiro passo é assumir o legado dos astronautas que viram a Terra de fora da Terra e se deram conta de que Terra e Humanidade foram uma entidade única e inseparável e que ela é parcela de um todo cósmico. O segundo, é saber que somos Terra que sente, pensa e ama, por isso homo (homem e mulher) vem de húmus (terra fecunda). O terceiro que nossa missão no conjunto dos seres é de sermos os guardiães e os responsáveis pelo destino feliz ou trágico desta Terra, feita nossa Casa Comum. O quarto é que junto com o capital natural que garante nossa bem estar material, deve vir o capital espiritual que assegura aqueles valores sem os quais não vivemos humanamente, como a boa-vontade, a cooperação, a compaixão, a tolerância, a justa medida, a contenção do desejo, o cuidado essencial e o amor.

Estes são alguns dos eixos que sustentam um novo ensaio civilizatório, amigo da vida, da natureza e da Terra. Ou aprendemos estas coisas pelo convencimento ou pelo padecimento. Este é o caminho que a história nos ensina.

*Leonardo Boff é Teólogo, autor do DVD "As quatro ecologias", Editora CDDH, de Petrópolis, 2009.

Tragédias que se repetem (Angra dos Reis)

05/01/2010 - 03h01


Por Marina Silva (*)



Fim de 2008, início de 2009, tragédia em Santa Catarina. Fim de 2009, início de 2010, tragédia no Rio de Janeiro. Não bastava um episódio tão doloroso? Não teria sido possível evitar as proporções terríveis do segundo?



O mais dramático nesses e em tantos outros casos é a repetição. Sugere inércia e uma irresponsabilidade insuportável que, passado o impacto inicial de vidas perdidas e a devastação de patrimônios tão duramente conquistados, retoma a rotina. E o discurso de que foi o excesso de chuvas a razão do desastre.

Áreas frágeis e não recomendadas para habitação continuam a ser ocupadas. Medidas preventivas permanecem sendo tomadas de maneira paliativa, com pouca verba, empenho e prioridade. Há iniciativas como o estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre as vulnerabilidades do litoral do Estado às mudanças climáticas, mas sem consequências práticas.

As pessoas atingidas continuam a depender quase que unicamente do heroísmo de bombeiros, de grupos de defesa civil, de voluntários que, não raro, aparecem nos noticiários impotentes diante da desproporção entre suas forças e a enormidade da perda e da dor.

Não sei o que se pode dizer aos familiares e amigos das vítimas das chuvas e deslizamentos, mais do que foi dito às vítimas de Santa Catarina. As catástrofes causadas pelo mortífero tripé -chuvas fortes, encostas instáveis e construção em áreas inadequadas- só mudam de lugar. O que parece não acontecer é uma intervenção no único vetor do qual temos controle: o uso e ocupação das áreas.
Sei por experiência própria o que é a perda radical, como a que acontece quando uma correnteza avassaladora invade a casa, leva as pessoas e desmonta o nosso mundo.
Não há nada a fazer, a não ser tentar salvar-se e a quem esteja ao alcance da mão. Tudo tão brutal que muitas vezes nem as lágrimas acodem.

John Owen (1616-1683), pastor e teólogo, dizia que os pregadores precisam "experimentar o poder da verdade que pregam em e sobre suas próprias almas". Quem não sente a alma incomodada pelo calvário daqueles que são atingidos de maneira frontal -e, na maioria das vezes, evitável- pelos fenômenos naturais não tem sensibilidade suficiente para mitigá-lo.

Não é justo, não é aceitável que a cada ano mais pessoas passem por tal experiência limite, quando se sabe que é possível fazer mais.

A melhor homenagem às vítimas é lutar para construir e instituir, até porque a tendência é aumentar a ocorrência dos fenômenos climáticos que agravarão ainda mais esse tipo de catástrofe, o que já deveria ser um pleno e efetivo direito da sociedade: a segurança ambiental.

contatomarinasilva@uol.com.br

TERRAMÉRICA - Caminho aberto para imposto sobre o carbono

04/01/2010 - 05h01

Por Julio Godoy*



Berlim, 28 de dezembro (Terramérica).- Congelada a opção de um tratado mundial contra a mudança climática, o imposto sobre emissões de gases de efeito estufa pode ser uma alternativa efetiva para corrigir práticas humanas poluentes, afirmam economistas e ecologistas. O dinheiro arrecadado com essa taxação deve ser colocado à disposição das nações em desenvolvimento para financiar o salto tecnológico necessário para modernizar suas economias e reduzir suas contribuições com o aquecimento global.

A ideia é promovida por economistas, ambientalistas, organizações internacionais, e até por alguns governos europeus. Um desses entusiastas é o economista Dennis Snower, presidente do Institut für Weltwirtschaft an der Universität Kiel (Instituto para a Economia Mundial da Universidade de Kiel), que fica 300 quilômetros a oeste de Berlim.

“As consequências climáticas da emissão de dióxido de carbono (CO²) são iguais em todo o mundo, independente de onde seja emitido o gás”, disse Snower ao Terramérica. “Por isso, cada emissor deveria pagar a mesma taxa por tonelada de carbono, sem importar se é de um país industrializado ou de em desenvolvimento, ou as quantidades de CO² que tenha lançado no passado”, argumentou. Segundo Snower, esse imposto deveria substituir o sistema de direitos de emissões negociáveis, que sofre de duas fraquezas: essas autorizações foram concedidas sem custo e em quantidades exageradas pelos governos do mundo rico às suas indústrias nacionais.

Em geral, os economistas consideram os impostos excelentes instrumentos que o Estado tem para influir no comportamento do cidadão e guiar padrões de consumo, desestimulando produtos considerados nocivos tanto individual quanto coletivamente, ou incentivando alternativas sãs. Richard Tol, economista ambiental e professor em várias universidades da Europa, também apoia o imposto do carbono. “Deveria ser a única medida global a ser aplicada contra a mudança climática, com uma taxa inicialmente muito baixa e que aumentaria progressivamente com o passar do tempo”, disse ao Terramérica.

Como Snower, Tol condena o sistema de direitos de emissões negociáveis. “Seria adequado se os direitos fossem leiloados em lugar de distribuídos gratuitamente, como acontece atualmente na Europa”, disse o economista, que também atuou como assessor de autoridades da Alemanha, Irlanda, Grã-Bretanha e Estados Unidos.

A cobrança desse imposto já é aplicada na Europa. O governo irlandês introduziu, no dia 10 deste mês, uma taxa que inicialmente atinge o consumo de petróleo e óleo combustível. A partir de 1° de maio de 2010, a taxa, de 15 euros (US$ 22,50) por tonelada emitida de CO², atingirá também o consumo de gás e de combustível para calefação. Brian Lenihan, ministro das Finanças da Irlanda, disse que o imposto é uma “demonstração, dirigida ao mundo, da vontade irlandesa de reduzir a emissão de gases estufa”.

Na França também vigorará um imposto semelhante a partir de 1° de janeiro de 2010. O presidente Nicolas Sarkozy fez o anúncio em setembro. “O imposto, de 17 euros por tonelada de emissões, será aplicado tanto às indústrias como às famílias”, disse o mandatário francês, em um discurso naquela oportunidade. Sarkozy explicou que o valor da taxa é igual ao preço médio da tonelada de CO² no mercado europeu de carbono, em operação desde 2008.

O ex-primeiro-ministro francês Michel Rocard (1988-1991), que no começo de 2009 presidiu a comissão que propôs a introdução do imposto sobre carbono, disse ao Terramérica que “a intenção é penalizar alguns comportamentos contaminantes, como o consumo de combustível fóssil, e que contribuem para o aquecimento da Terra”. Instituições multilaterais, como a Organização Internacional do Trabalho, apoiam um imposto global sobre o CO². Em um informe publicado no dia 11 deste mês, a OIT estima que esse imposto permitiria a criação de 14 milhões de empregos por ano até 2014.

A OIT sugere a aplicação de uma taxa semelhante à de França e Irlanda. O informe “Políticas verdes e emprego: um duplo dividendo?” também estima que cerca de 600 milhões de trabalhadores no mundo, cerca de 40% de todos os empregos globais, trabalham em setores altamente intensivos em emissões de CO². No entanto, o imposto é considerado contraproducente por certos economistas e alguns governos de países emergentes, como a China. Pequim considera que o imposto ignora as diferentes responsabilidades de países industrializadoas e em desenvolvimento no aquecimento global.

O professor Ottmar Edenhofer, da Universidade Técnica de Berlim, acredita que o imposto sobre CO² “faria os países produtores de petróleo e de carvão acelerarem a extração desses combustíveis e aumentar a contaminação. O sistema de direitos de emissões negociáveis é preferível, pois permite um controle imediato dos orçamentos nacionais de emissões”, disse ao Terramérica.

No entanto, os direitos de emissão – na prática, permissões limitadas para contaminar – devem superar dois obstáculos: primeiro, que a comunidade internacional deve adotar um sistema vinculante de atribuição, seja de acordo com a população nacional, o que favoreceria os países em desenvolvimento, ou segundo a renda econômica, que beneficiaria os países ricos. Segundo, que o mercado também seja global.

Em qualquer caso, a urgência da mudança climática exige uma solução imediata, afirmou Edenhofer. “O orçamento global de emissões de gases estufa neste século não deve passar das 830 gigatoneladas de CO², para não cruzar o limite máximo de aumento da temperatura terrestre de dois graus. Na última década, a humanidade emitiu 270 gigatoneladas. Nesse ritmo, o mundo terá esgotado seu orçamento em menos de 20 anos”, acrescentou.

* O autor é correspondente da IPS.

Sustentabilidade em shopping centers: um caminho sem volta

11 de dezembro de 2009 às 15:19
Por Heloisa Bomfim - Administradores.com.br

A importância de tornar os empreendimentos brasileiros mais sustentáveis, desde a construção até a operação, ganha cada vez mais destaque no mundo corporativo. O tema é discutido nos mais diversos segmentos de negócios, como varejo, serviços e indústria.

E, cada vez mais, a aplicação de boas práticas ambientais e a preferência por empreendimentos verdes são incluídas na política global de grandes empresas. A sustentabilidade é um caminho sem volta. O desafio é investir na construção dos chamados "green buildings" e buscar formas de tornar sustentáveis também as construções antigas.

Em grandes empreendimentos comerciais, como shopping centers, por exemplo, o consumo de energia é um dos principais gastos mensais. Assim, além de ambientalmente correto, um projeto que vise a sustentabilidade do empreendimento - e inclua desde o design até a operação diária - significa não só a redução de consumo de recursos naturais, mas também diminuição das despesas financeiras.

Ao contrário do que muitos podem imaginar, o investimento na construção de um prédio verde não chega a ser 10% superior ao de um empreendimento comum. As estimativas indicam que um empreendimento projetado para ser sustentável, desde a construção até a operação, costuma ser de 3,5% a 7% mais caro.

Em contrapartida, o preço de venda ou o aluguel dos espaços, sejam salas comerciais ou lojas, também supera em cerca de 7% os valores cobrados dos empreendimentos comuns. Além disso, no longo prazo, a economia gerada com a redução do consumo e a melhoria de performance da operação garantem uma economia de até 30% no condomínio mensal, o que torna o negócio cada vez mais atrativo para os lojistas.

Ainda considerando o mercado de shopping centers, apenas cerca de 6% do total de empreendimentos existentes no País implementaram técnicas sustentáveis desde a construção. Entre elas, destacam-se a definição de um design que favoreça a iluminação natural durante o dia, equipamentos elétricos eficientes, projetos para reuso de água e utilização de água das chuvas, além de sistemas inteligentes de iluminação ou ar condicionado.

Porém, e os demais shoppings? Como garantir a sustentabilidade em um empreendimento já construído? Neste caso, há uma série de processos que podem proporcionar maior eficiência da operação, otimizando o consumo de recursos naturais e garantindo a sustentabilidade. Adaptações na infra-estrutura, revisão do projeto de iluminação e o retrofit de equipamentos são alguns exemplos de como é possível rever a operação diária.

Para se ter uma idéia, no processo de certtificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um dos principais certificados do mundo que visa a aplicação de boas práticas ambientais, a forma e o consumo de energia elétrica e de água estão entre os principais itens avaliados.

Assim, para os empreendimentos mais antigos, que não são projetados para energia solar ou reuso de água, o investimento em equipamentos novos, que consomem menos energia, pode ser a solução para iniciar o processo de economia. Na iluminação, a troca por lâmpadas mais eficientes, como Leds, deve ser a primeira atitude, seguida por sensores de iluminação.

No entanto, em alguns casos, iniciativas simples, como aumentar o nível do brilho do piso, podem trazer ótimos resultados na iluminação, através de reflexão. Já no sistema de ar condicionado, que corresponde a 60% da conta de energia de um shopping, investir na implementação de sistemas de controle por andar ou loja, assim como na inclusão de películas que limitam a entrada de sol no ambiente, podem ser ótimas alternativas.
Também é possível optar pela inclusão de um gerador de energia para os horários de ponta, em que a energia elétrica costuma ser mais cara. Esse conjunto de ações permite uma economia de até 30% no custo operacional do empreendimento.

Com relação à economia de água, um dos recursos mais escassos de nosso planeta, é possível realizar alterações nos equipamentos para o consumo inteligente. Como exemplo, podemos citar a troca de torneiras manuais para torneiras com temporizadores ou descargas a vácuo. Já existe também uma linha de louças para banheiros com desgin projetado para reduzir o consumo de água. Com o reuso de água, iniciativa que traz mais economia entre as citadas, é possível a reutilização da água para rega de plantas e direcionamento para sanitários.

Embora projetos de créditos de carbono não sejam economicamente viáveis para o segmento de shopping centers, o monitoramento do quanto foi reduzido auxilia na visualização dos efeitos positivos do projeto de eficiência energética.

Vale ressaltar, entretanto, que um dos maiores desafios da manutenção do projeto sustentável em um shopping é a garantia de que o cliente final não será afetado com as mudanças realizadas. Reduzir o consumo de energia ou otimizar a operação de infraestrutura não deve interferir no grau de adequabilidade do ambiente.

Se o cliente encontra um local limpo, organizado e atraente visualmente, ele ficará mais tempo no shopping, o que aumenta a probabilidade de conversão da venda e, consequentemente, o ticket médio do shopping. Os shoppings verdes são, de fato, um caminho sem volta.

Heloisa Bomfim - business developer da área de empreendimentos comerciais e shoppings centers da Dalkia Brasil

Empregos 'verdes' estão chegando aos cargos executivos

Tiffany Hsu - do Los Angeles Times

Durante suas mais de três décadas no ramo imobiliário, David Pogue atuou em muitos papéis, mas especialista em meio ambiente nunca foi um deles. Isso não impediu a sua empresa, uma imobiliária de Los Angeles chamada CB Richard Ellis, de nomeá-lo o guru da empresa para todos os assuntos 'eco-friendly' - ou ecologicamente corretos - quase dois anos atrás.

De repente, Pogue se viu encarregado de fazer a companhia e seus projetos ganharem maior eficiência energética e se tornarem ambientalmente conscientes, uma mudança abrupta nas suas responsabilidades anteriores de gestão. "Eu sou um leigo, um cara do ramo imobiliário tentando se tornar um ambientalista",diz Pogue, diretor nacional de sustentabilidade na empresa. "Mas eu acredito no que eu faço, que é algo maior do que eu."

Conforme as empresas precisam lidar com as alterações climáticas, tentar atrair clientes com consciência ambiental e desenvolver agendas alternativas de energia, ao mesmo tempo que obedecer a regulamentação, um novo tipo de administrador está surgindo para para ajudar os executivos das empresas.

Os agentes de sustentabilidade e supervisores 'verdes' são os sucessores para os gestores de diversidade e os especialistas em inovação dos anos 90 - e têm foco dividido entre a responsabilidade das empresas, as relações públicas e o lucro. "Nossos clientes esperam isso", disse Pogue. "Empresas do nosso tamanho não podem se dar ao luxo de não participar."

Depois de assistir a uma série rigorosa de conferências e seguir horas da leitura sobre a chamada indústria verde, Pogue se estabilizou na posição. Seus esforços incluem conectar a CB Richard Ellis a programas como o Energy Star da Agência de Proteção Ambiental e do Departamento de Energia dos Estados Unidos, além do programa americano de Liderança em Energia e Design Ambiental do Green Building Council.

Empegos como o de Pogue são muitas vezes colocados em altos escalões das empresas, onde são altamente visíveis e diretamente supervisionado pelos executivos. Na Coca-Cola e na Mitsubishi Motors da América do Norte, os executivos-chefes Muhtar Kent e Ryoichi Ueda, respectivamente, adotaram também o título de chefes da sustentabilidade.

Outras empresas lidam com obrigações extras, tais como lidar com a cadeia de abastecimento. Na Levi Strauss, Michael Kobori atua com padrões trabalhistas e questões ambientais como vice-presidente social e de sustentabilidade ambiental. "Há dez anos, a minha posição não existia", diz Kobori. "Agora, estamos vendo uma nova geração de líderes empresariais cresceram com a sustentabilidade. Há realmente uma carreira nesta área para alguém em uma empresa."

No ano passado, menos de 200 posições dedicadas para a sustentabilidade estavam distribuídas entre mais de 1.200 empresas, de acordo com a consultoria empresa Hudson Gain Corp. "Com um pool de talentos muito limitado de executivos experientes em sustentabilidade", muitas empresas remanejaram candidatos internos que eram bem vistos em outras áreas para o papel, segundo o relatório.

No ensino superior, cerca de 80 funções diferentes existiam no ano passado: 82% deles em tempo integral, de acordo com a Associação para o Desenvolvimento da Sustentabilidade no Ensino Superior. Os salários variavam de menos de US$ 20.000 para quase US$ 160.000.

Administradores 'verdes' também estão surgindo no governo. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama assinou uma ordem executiva em outubro exigindo que cada agência federal designasse um funcionário para a sustentabilidade.

Algumas empresas, ansiosas para lucrar com esse entusiasmo ambientalista, foram acusadas de contratar agentes de sustentabilidade 'de fachada'. Em vez criar planos de negócios mais ecológicos e inspirar a equipe, esses executivos acabam isolados, ineficazes ou sobrecarregados. "Há um perigo na criação de um executivo de sustentabilidade, porque atribui toda a responsabilidade dessa questão para uma só pessoa", lembra Kobori. "Nós só seremos bem sucedidos quando a sustentabilidade estiver embutida em todos os papéis da empresa."

Na Levi Strauss, Kobori trabalha com os produtores de algodão, fábricas de tecidos, linhas de transporte, lojas de varejo e consumidores. Segundo ele, são feitos muitos esforços, por exemplo, para que toda a equipe tenha padrões elevados de qualidade da água, para que o esgoto tratado nas fábricas parceiras na China e no México seja até mais limpo do que a água que as abastece.

A rede de supermercados amereicana Wal-Mart espera reduzir as emissões de gases de efeito de estufa em 20% até 2012 e parar de enviar resíduos sólidos para aterros até 2025, de acordo com o vice-presidente de sustentabilidade no varejo, Matt Kistler. Em um fórum sobre sustentabilidade no mês passado, ele discutiu planos para oferecer produtos feitos localmente, usar alimentos de pesca certificada e acompanhar a proveniência de diamantes, ouro e prata usados na produção de jóias. Entre outras coisas, o Wal-Mart está usando iluminação de Leds em muitas das prateleiras para alimentos refrigerados e congelados.

Depois que o Bank of America anunciou, em 2007, US$ 20 bilhões em um compromisso de dez anos com operações, produtos e serviços sustentáveis, surgiram vários empregos 'verdes'. Entre eles, um gerenciador de certificados em padrões de construção sustentável, que trabalha no cumprimento da legislação ambiental, e muitos estrategistas de investimento focados nas alternativas de energia renovável. "Não se trata apenas de fazer o bem, isso representa oportunidade de negócios convincente para os nossos clientes", afirma Richard Cohen, diretor-gerente de investimentos estratégicos em meio ambiente no gigante bancário.

De acordo com o relatório do Hudson Gain, esses funcionários 'verdes' são provenientes de diversas áreas profissionais, incluindo engenharia, pesquisa, finanças, recursos humanos, direito e relações públicas. O vice-presidente e chefe de sustentabilidade da empresa de construção de materiais Owens Corning, Frank O'Brien-Bernini, por exemplo, estudou a sustentabilidade na universidade e pesquisou sobre energia solar para o seu mestrado em engenharia mecânica. "Foi uma carreira e uma paixão",diz ele. "Eu estou nisso há muito tempo."

No entanto, uma grande parte dos profissionais ainda é inexperiente, como James J. Gowen, da Verizon Communications. Segundo Gowen, que já estava à frente de operações da cadeia de abastecimento quando foi reaproveitado em setembro para servir também como chefe de sustentabilidade, a Verizon tem um histórico de eficiência energética. "Nós estamos lidando com questões de sustentabilidade há algum tempo, embora sem usar este nome", diz.

Na Ford Motor, Susan Cischke luta pelo verde com uma equipe de quase 300 pessoas. O grupo fabrica veículos Ford mais leves para melhorar a eficiência do combustível, desenha carros elétricos e híbridos e reduz os impactos ambientais das fábricas da empresa, entre outras coisas. Como vice-presidente do grupo de sustentabilidade, meio ambiente e engenharia de segurança, Cischke trabalha em estreita colaboração com o ambientalista e presidente executivo William Clay Ford Jr. "Isso não é apenas um trabalho secundário", defende. "Ele realmente influencia tudo o que fazemos. Ele vai além da conformidade e diz respeito a um planejamento de longo alcance para preparar a empresa para uma visão mais ampla."

Mas, de acordo com Pogue, em uma época na qual a economia é instável, alguns funcionários de sustentabilidade acreditam que precisam encontrar novas abordagens e investimentos ambientalistas. "Os últimos meses foram a busca por sobrevivência, e não por sustentabilidade", afirma.

Ainda assim, para Pogue, mesmo resistente, o mercado terá de acomodar a demanda por produtos e práticas verdes, e abrir espaço para as pessoas que podem fazer isso acontecer. "O mercado imobiliário é um negócio conservador, e nós lidamos com um monte de pessoas que acreditam que não há nenhum problema ecológico", lembra. "Mas eles são práticos. Se outros acreditam que é bastante importante, então é importante."

(Com informações do Los Angeles Times)

País tem pior saldo comercial em sete anos

Baque no saldo comercial

A crise financeira internacional e a desvalorização do dólar ante o real
fizeram com que a balança comercial brasileira fechasse 2009 com um superávit de US$ 24,615 bilhões — o menor saldo positivo desde 2002, quando o montante apurado foi de US$ 13,196 bilhões. Com isso, o país teve em 2009 o pior resultado do seu comércio exterior no governo Lula. As exportações somaram US$ 152,252 bilhões, com queda de 22,2% em relação a 2008, enquanto as importações, de US$ 127,637 bilhões, registraram uma redução ainda maior, de 25,3%.

Com isso, o país perdeu mais de US$ 91 bilhões em corrente de comércio (soma das vendas com as compras externas), que caiu de US$ 370,928 bilhões em 2008 para US$ US$ 279,889 bilhões em 2009.

A queda de 22,2% das exportações, pelo critério de média diária (US$ 609 milhões), foi o maior tombo desde 1952, quando a retração registrada foi de 19,8%. A série histórica para os dados de balança comercial do Brasil foi iniciada em 1950. Na média diária importada, de US$ 510,5 milhões, a taxa de redução só não superou a de 1953, quando o percentual negativo ficou em 36,8%.

Num corte mais próximo da realidade atual, as exportações só caíram duas vezes desde a década de 1990, por causa das crises russa e asiática: 3,4% em 1998 e 6,11% em 1999.

Ao divulgar ontem os dados fechados da balança comercial brasileira de 2009, o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, afirmou que os números são preocupantes. Ele destacou a queda nas exportações de produtos manufaturados, sobretudo para mercados consumidores importantes, como Estados Unidos e América Latina. A participação dessa categoria de produtos na pauta exportadora caiu de 46,8% em 2008 para 43,7% no ano passado.

— Isso preocupa, porque o produto manufaturado gera mais empregos para o país e agrega maior valor — disse o secretário, acrescentando que o Brasil precisa recuperar rapidamente os mercados perdidos.

China supera EUA e se torna principal destino

No ano, a China superou, pela primeira vez, os EUA no ranking dos principais destinos de produtos brasileiros, respondendo por R$ 19,9 bilhões das exportações do Brasil. As vendas para o mercado americano, comprador importante de insumos industriais, caíram de US$ 27,6 bilhões em 2008 para US$ 15,7 bilhões em 2009. As vendas para a Argentina diminuíram de US$ 17,6 bilhões para US$ 12 bilhões no mesmo período.

Apesar de afirmar que 2010 será um ano melhor para as exportações brasileiras, projetadas em US$ 168 bilhões, sob o argumento de que as perspectivas apontam pequena recuperação da economia mundial, Barral listou três grandes obstáculos à retomada das vendas externas: a competitividade dos mercados compradores (item no qual o real valorizado tem grande influência); a carga tributária elevada e o próprio comportamento da economia doméstica, que continua aquecida e absorvendo boa parte da produção.

— Se além do câmbio, você coloca imposto em cima, não tem condições de exportar mais — disse Barral.

Sem solução concreta à vista, conforme admitiu Barral, já que a reforma tributária não será aprovada neste governo, o secretário disse que o governo brasileiro vai investir em acordos bilaterais, principalmente com os EUA, no sentido de facilitar o comércio e os investimentos. Há também intenção de ampliar o regime de drawback (isenção de impostos para insumos usados na produção de bens exportáveis), além de estimular mais empresas a recorrer a este sistema.

Barral considerou normal a queda nas importações e positivo o saldo comercial de 2009, lembrando que foi um ano de crise. Enfatizou ainda que, quando as estatísticas forem revisadas, o superávit poderá se igualar ao registrado em 2008, que foi de US$ 24,956 bilhões.

O valor de 2009 será aumentado em cerca de US$ 300 milhões, devido a exportações de energia elétrica para a Argentina. Como as informações fornecidas pelo país vizinho não batiam com os dados do governo brasileiro, as vendas ficaram de fora do balanço, explicou.

— O que se pode dizer é que as commodities foram fundamentais para a formação do superávit comercial em 2009 — disse o vicepresidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Em dezembro, a balança comercial registrou superávit de US$ 1,435 bilhões, resultado de exportações de US$ 13,720 bilhões e importações de US$ 12,285 bilhões.

Na avaliação da Consultoria Tendências, haverá recuperação nas exportações também nas importações brasileiras em 2010, com o país obtendo um saldo comercial ainda elevado, da ordem de US$ 20 bilhões.