quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Manobra legal do Governo esconde pior balança comercial desde 1998 - InfoMoney

Beto Guedes - Gabriel

Beto Guedes - O Sal Da Terra

Beto Guedes - Amor de índio

Beto Guedes - O Sal Da Terra

domingo, 29 de dezembro de 2013

Estilo ou Substância

A guinada colossal do modo de vida do papa Francisco em relação a Bento XVI corresponderá a uma mudança da Igreja, da estrutura do Vaticano e suas relações com o mundo secular?

28 de dezembro de 2013 | 16h 00


  • Paolo Flores d'Arcais

O papa Francisco foi eleito pela revista Time o Homem do Ano "pela rapidez com que conquistou a imaginação de milhões de pessoas que haviam abandonado toda esperança em relação à Igreja". Ratzinger também recebeu um reconhecimento análogo: não da Time, mas da revista Esquire, em 2007, como accessorizer of the year, ou seja, o homem que usava os acessórios mais elegantes do planeta. Esquire é uma publicação masculina mensal cuja apresentação é um programa em si: "Guia para homens que procuram uma vida mais cheia, rica, informada e compensadora. Estilo, etiqueta, dinheiro, cultura e culinária". A escolha deveu-se aos mocassins vermelhos extremamente macios de Ratzinger, feitos sob medida por um dos sapateiros mais famosos e caros do mundo (com os quais, aliás, ele presenteou o papa), o italiano Adriano Stefanelli de Novara, que atende também Silvio Berlusconi. Os dois reconhecimentos revelam claramente a diferença abissal de estilo dos dois papas.
Se 'a Cúria é a lepra do papado', por que Bergoglio vai santificar o papa que a moldou? - Tiago Queiroz/Estadão
Tiago Queiroz/Estadão
Se 'a Cúria é a lepra do papado', por que Bergoglio vai santificar o papa que a moldou?
Aliás, Bento XVI já fora notado e admirado por usar o camauro, um tipo de gorro muito utilizado pelos papas da Renascença, de veludo vermelho debruado com arminho branco ou plumas de cisne; o saturno, chamado chapéu romano, vermelho com bordados dourados; e a mozzetta, uma pelerine de veludo vermelho às vezes debruada com arminho.
Francisco, ao contrário, caracterizou-se imediatamente por recusar a cruz de ouro, substituída por uma de ferro; renunciar ao apartamento em São Pedro (ele vive no alojamento de Santa Maria, uma espécie de pousada vaticana, com outras dezenas de pessoas); usar um velho Renault 4 bem rodado (300 mil quilômetros), presente de um pároco da Província de Verona, com o qual ele se desloca no Vaticano; e, recentemente, por ter comemorado o aniversário com três sem-teto. Enfim, por levar uma vida que toma a sério o voto de pobreza que fazem, em tese, todos os sacerdotes ao se ordenarem.
Portanto, a pergunta que paira no ar é: a essa guinada colossal do estilo de vida do pontífice corresponderá uma guinada do governo da Igreja, das estruturas da Cúria, da renovação pastoral e doutrinal, das relações com o mundo secular? É o que se indagam os católicos, cada vez mais divididos entre os que gostariam de continuar a cruzada de Ratzinger contra o iluminismo e as liberdades civis em expansão no Ocidente (aborto, eutanásia, casamento homossexual) e os que esperam de fato a conversão da Igreja à pobreza e ao espírito do Evangelho. É o que se indagam os cristãos de outras confissões, eles também divididos entre o populismo dos milagres dos pregadores evangélicos da televisão (que experimentam um verdadeiro boom na América Latina) e as esperanças ecumênicas dos protestantes europeus e dos greco-ortodoxos do mundo eslavo e oriental. É o que se indagam os não crentes, entre os quais é enorme a esperança (quase certamente excessiva) no que se refere à vontade de Francisco de abrir um autêntico diálogo. Mas certamente também os expoentes das outras grandes religiões, os muçulmanos em primeiro lugar, interessados principalmente em ampliar o espaço e o peso da própria fé e o reconhecimento de seus costumes (familiares e sexuais) nas legislações e na prática jurídica das sociedades secularizadas.
Em suma, estilo ou substância? A pergunta é em parte enganadora. O estilo de um papa já é substância, tem efeitos práticos. Por outro lado, em entrevista ao jornal La Stampa, de Turim, publicada no dia 15, o papa Bergoglio, consciente disso, ressalta, pragmático: "Um cardeal idoso me disse, meses atrás: ‘O sr. já começou a reforma da Cúria com a missa diária em Santa Marta... A reforma se inicia sempre com iniciativas espirituais e pastorais, mais que com mudanças estruturais’".
Numa longa entrevista à revista Civilização Católica, dos jesuítas, depois de um apelo à doutrina da Igreja a respeito dos "valores não negociáveis", como os definia Ratzinger (em outras palavras, o sexo e a bioética), Francisco afirma que "os ensinamentos, tanto dogmáticos quanto morais, não são todos equivalentes. Uma pastoral missionária não é obcecada pela transmissão desarticulada de uma multidão de doutrinas que devam ser impostas com insistência".
Mas enquanto permanecem essenciais, na atitude cristã, a caridade e o perdão, e, aliás, a ternura (talvez a palavra que o papa mais usou até hoje), é inevitável que sua crítica enérgica à "obsessão" dogmática seja entendida como uma tentativa de despi-la de legitimidade por aqueles que fizeram dos "valores não negociáveis" uma bandeira e uma cruzada. Por exemplo, setores consideráveis da conferência episcopal dos Estados Unidos.
De fato, as consequências práticas foram imediatas. No dia 10 de setembro, a Câmara do Estado de Illinois aprovou a lei que consente o casamento entre homossexuais, por 61 votos, apenas 1 a mais que a maioria exigida. Graças também à intervenção do influente presidente da Câmara, o católico Michael Madigan, anteriormente contrário, que justificou da seguinte maneira a mudança do seu voto: "Quem sou eu para julgar que pessoas que descobriram ser gays e vivem um relacionamento rico de harmonia deveriam permanecer na ilegalidade?". Ele reproduziu exatamente as palavras de Francisco aos jornalistas, retomadas e "canonizadas" pelo papa na entrevista ao Civilização Católica. Graças às palavras do papa, Madison foi decisivo em convencer pelo menos outros cinco colegas, inclusive a republicana Linda Chapa LaVia, que declara: "Como católica que segue Jesus e o papa, para mim está claro que a essência da doutrina católica é o amor, a compaixão e justiça para todos, indistintamente".
Não que o papa Francisco goste necessariamente desses "efeitos colaterais" de suas palavras. Em 2010, quando era arcebispo de Buenos Aires, deu pleno apoio à "manifestação contra a possível aprovação de uma lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo" organizada pelos leigos católicos. Ressaltou que a "benevolência" em relação a quem queria introduzi-la não poderia permitir que se esquecesse o fato de que "a aprovação do projeto de lei implicaria um real e grave retrocesso antropológico", pois "a essência do ser humano tende à união do homem e da mulher como realização recíproca, como atenção e assistência, como caminho natural para a procriação". Em suma, e em termos mais diretos: o casamento homossexual (e a homossexualidade enquanto tal) é contrário à natureza.
Numa entrevista ao agnóstico Eugenio Scalfari, fundador do jornal La Repubblica, Francisco afirmou que "a Igreja não tratará de política ... A Igreja nunca irá além da tarefa de exprimir e difundir seus valores, pelo menos enquanto eu permanecer aqui". Acaso significará que, como bispo de Roma, ele não procurará mais influir na legislação civil, contrariamente ao que fez quando foi bispo de Buenos Aires? Ou a famosa "ambiguidade" jesuítica, que enchia de indignação cristã o afável Blaise Pascal, permitirá que ele contradiga com fatos as promessas contidas em suas palavras ?
Se as palavras do papa Francisco soam claras, os fatos, nem tanto. Se ele parece aplicar perfeitamente o que diz Mateus 5,37 - "Seja o seu sim, sim, e o seu não, não, porque o que passa disso vem do Maligno" -, não pode esquecer Lucas 6,43-44: "Não há árvore boa que dê fruto ruim, nem árvore doente que dê fruto bom; cada árvore se conhece pelo fruto". Portanto seu pontificado não será julgado pelas palavras, ainda que cristalinas do ponto de vista evangélico, mas pelos atos (e pelas omissões).
Francisco reiterou a Scalfari que "o ideal de uma Igreja missionária e pobre continua mais que válido. Essa, aliás, é a Igreja que pregaram Jesus e seus discípulos". Portanto os católicos, e em primeiro lugar os sacerdotes, terão de ser "pobres entre os pobres", enquanto "o chamado liberalismo selvagem continua tornando os fortes mais fortes, os fracos mais fracos e os excluídos, mais excluídos", sendo assim incompatível com o cristianismo. Conceitos solenemente reafirmados na exortação apostólica Evangelii Gaudium.
Por que então as autoridades financeiras do Vaticano, nomeadas recentemente pelo novo papa, se recusaram a fornecer à receita italiana os nomes de alguns milhares de cidadãos que, com certeza, utilizaram a fronteira da Rua Leão IV e as contas correntes do Instituto para as Obras da Religião (IOR)para sonegar cifras colossais em impostos? Em suma, as novas nomeações, aparentemente, não prenunciam uma operação de transparência que lance alguma luz sobre os verdadeiros crimes de natureza financeira e fiscal (inclusive lavagem de dinheiro) perpetrados durante anos sob a proteção do IOR. Prenunciam apenas um comportamento mais correto no futuro, que evite embaraçosas sanções internacionais e, enquanto isso, permita redistribuir de maneira mais equilibrada o poder financeiro vaticano entre a ala americana dos Cavaleiros de Colombo (Carl Anderson, Peter Brian Wells e a professora Mary Ann Glendon) e a ala europeia próxima aos Cavaleiros de Malta (cardeal Jean-Louis Tauran, o atual presidente do IOR, Ernst von Freyberg, o bispo espanhol Juan Ignacio Arrieta Ochoa de Chinchetru, membro da Opus Dei).
O papa prometeu medidas rigorosas na questão da pedofilia, mas a única verdadeira guinada seria a obrigação dos bispos de denunciar todo caso suspeito às respectivas autoridades civis, entregando o assunto a César, ou seja, à polícia e aos magistrados, e não a Deus, isto é, à severidade ou à caridade dos episcopados. Mas uma decisão nesse caso específico ainda está demorando.
No "não fazer política" estará incluída a confirmação da beatificação dos 552 mártires espanhóis justiçados pela República da Espanha durante a guerra civil desencadeada por Francisco Franco? Mártires que, na videomensagem transmitida por ocasião da cerimônia de beatificação coletiva de Tarragona, Francisco apontou como exemplo "para os que querem ser concretamente cristãos, cristãos pelas obras, não pelas palavras; e não ser cristãos medíocres, cristãos com um verniz de cristianismo, mas sem substância... cristãos até a morte". A citação suscitou indignação da monja beneditina Teresa Forcades, teóloga muito conhecida, e de todos os católicos espanhóis democratas. E, se "a Cúria é a lepra do papado" (como disse na entrevista a Scalfari), por que Francisco insiste na santificação de Karol Wojtyla, que moldou essa "lepra" a sua imagem e semelhança em um pontificado de mais de um quarto de século?
Em suma, o papa Francisco, Jorge María Bergoglio, é ainda um enigma. Vamos esperar. Cada árvore se conhece pelo fruto. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
PAOLO FLORES D’ARCAIS, FILÓSOFO E JORNALISTA ITALIANO, É EDITOR DA REVISTA MICROMEGA E AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ETICA SENZA FEDE (EINAUDI) 

Dilma vê 'guerra psicológica' na economia


A presidente Dilma (de branco) dentro do barco Amazônia Azul na volta de um passeio na Bahia durante o recesso de fim de ano























29/12/2013 - 20h34

FERNANDA ODILLA

DE BRASÍLIA
Ouvir o texto


No último pronunciamento em rede nacional do ano, a presidente Dilma Rousseff afirmou na noite deste domingo que a área econômica de seu governo é vítima de "guerra psicológica" por parte de setores do empresariado, ainda que admita haver o que "retocar" e "corrigir" na economia.
A fala, de 12 minutos, ignorou o principal fato político do ano, as manifestações de rua de junho que derrubaram abruptamente a popularidade do governo. Citou superficialmente que "ouviu reclamos" da sociedade e que está "implantando pactos para acelerar o cumprimento de nossos compromissos".
Dilma usou um roteiro de campanha eleitoral em seu discurso, enaltecendo programas federais e instando a audiência a pensar "no que aconteceu de positivo nos últimos anos na vida do Brasil".
Mas boa parte do discurso, o 17º do seu mandato, foi dedicada a promover uma visão otimista da economia, principal área a sofrer críticas em sua gestão –2013 viu a inflação novamente fechar acima do centro da meta do Banco Central, o PIB está projetado pelo governo para magros 2,3% e a política fiscal é bombardeada até por aliados.

Apesar de ter deixado claro que o pessimismo não pode contaminar a economia e que está atuando "nos gastos" e no combate inflacionário, Dilma ponderou que "não existe um sistema econômico perfeito" nem um "país com uma economia perfeita".
"Em toda economia haverá algo por fazer, algo a retocar, algo a corrigir", disse ela, que previu um 2014 melhor para o bolso dos brasileiros.
Citando "redução de impostos" e "diminuição da conta de luz", a presidente disse que tem recebido "duras críticas daqueles que não se preocupam com o bolso da população". "Se mergulharmos em pessimismo e ficarmos presos a disputas e interesses mesquinhos, teremos um país menor", afirmou, em outro momento.
Também fez seu ataque mais duro, sem nominar o pedaço do empresariado ao qual se referia. "Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas", disse.
Também sem citar o mensalão, cujos protagonistas da antiga cúpula do PT no governo Lula foram presos em 2014, Dilma afirmou que não abriu mão em apoiar o combate à corrupção.
Como de praxe neste tipo de balanço, Dilma listou o que considera sucesso em sua gestão, e que estará em sua propaganda na campanha à reeleição em 2014: Mais Médicos, Ciência sem Fronteiras, Pronatec (programa de formação profissional), Minha Casa, Minha Vida e o Brasil sem Miséria.
"Nos últimos anos somos um dos raros países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a uma grave crise. Chegamos até aqui melhorando de vida, pouco a pouco, mas sempre de maneira firme e segura", disse.
O pronunciamento deste domingo foi o sétimo do ano e o 17º desde 2011. Ela já superou os números do antecessor, que fez 11 no primeiro mandato (2003-2006) e 10 no segundo (2007-2010).
Danilo Verpa/Folhapress
A presidente Dilma (de branco) dentro do barco Amazônia Azul na volta de um passeio na Bahia durante o recesso de fim de ano