quinta-feira, 22 de julho de 2010

Modelo mais eficaz

Discórdias entre profissionais precarizam a área de SST

Quando começamos a escrever a coluna Dia a Dia já tínhamos em mente a preocupação em estar propondo temas que fossem além das questões mais objetiva se tratássemos também de temas que, embora não pareçam tão evidentes, estão entre aquelas causas que contribuem de forma decisiva para que as questões da prevenção em nosso País evoluam de forma tímida.
Acreditávamos também que há necessidade de deixar de lado em alguns momentos a mediocridade simpática e ir a fundo em determinados assuntos tentando iluminar certas situações que precisam ser revistas.
Pensamos que em algum momento é preciso parar e pensar não na prevenção como querem estes ou aqueles, mas na prevenção que seja melhor para todos.
O primeiro passo nessa direção certamente passa por uma revisão de valores e visões pessoais. Pode até parecer o passo mais simples, no entanto é nesse ponto que começam e se perpetuam boa parte dos grandes problemas de relacionamento que temos na área de Segurança e Saúde no Trabalho.
Desde muito aprendemos o conforto da generalização e ao mesmo tempo inibimos qualquer possibilidade de uma visão mais completa sobre determinadas situações. Gostamos de acreditar que pensando e agindo nos tornamos “pessoas de opinião” ou, ainda, fazemos parte de um imenso coletivo. Talvez isso nos faça sentir de alguma forma seguros e, com certeza, nos faz deixar de viver o
máximo que cada relação pode propiciar.
Por essa razão existem conflitos por toda parte entre os profissionais que estão no quadro da NR 4. Parte de nossos problemas parece ser explicados facilmente a partir da troca cega de acusações e culpas. Agindo assim certamente praticamos o que há de mais antigo nas relações humanas: a necessidade de um culpado para justificar e definir toda uma situação. Assumindo isso como verdade e deixamos de ver aquilo que de fato interessa para todos: a união e a conjunção dos conhecimentos e vivências em prol da construção de um modelo prevencionista mais eficaz e verdadeiro.
Pensando que somos eticamente corretos alimentamos todo um sistema de discórdia que leva a assuntos intermináveis e que só servem para precarizar cada vez mais a nossa área como um todo.

DIFERENÇAS
Os especialistas em SST devem chamar sobre si as responsabilidades pelo assunto que tão bem conhecem em meio a uma sociedade que quase desconhece a questão.
Ao invés de ficarem debatendo, devem agir de forma madura, porque sem isso boa parte do conhecimento e dos esforços se perdem e seguimos sem um modelo prevencionista mais adequado e completo.
A história tem nos mostrado que investir na diferença é algo que implica em perdas para a sociedade. Os rumos que as questões de Segurança e Saúde no Trabalho vêm tomando em nosso País demonstram de forma clara que enquanto nos perdemos nos debates das coisas mínimas, outros segmentos bem organizados a cada dia que passa conduzem a Segurança e Saúde para um campo em que quaisquer pessoas com um pouco mais de conhecimento têm consciência. Será a morte das iniciativas com algum conteúdo ou possibilidade de resultados, tratando uma questão de interesse da sociedade como mais uma ferramenta para a manobra política, desprezando-se totalmente a característica técnica dessa área.
Assim, enquanto alguns discutem se vamos chamar de risco ou perigo, outros trabalham para cuidar da gestão de um assunto de essencial importância para o desenvolvimento do País. Enquanto pessoas sentam para discutir durante décadas se um programa pode ser assinado por este ou por aquele, outros constroem caminhos alternativos para que a área de SST deixe seu lugar de direito.

REAVALIAÇÃO
Uma boa área técnica não se faz apenas com eventos e palavras difíceis, com discursos inflamados e confrontos entre profissões. Parece que não nos basta dedicar anos e anos à elaboração de normas sem notar que boa parte delas serve mais para a sensação de que algo está sendo feito do que para sua atuação.
Distante dos modismos, das soluções que vêm e vão como se fossem as salvadoras da pátria, precisamos encontrar e definir a verdadeira face do que há de melhor em termos de prevenção para a organização em que atuamos, para nosso País, para nossa gente. Tenham certeza que isso começa e passa pelo estreitamento e diminuição de espaços e conflitos, não neste momento entre nós e
as demais áreas e segmentos, mas em primeiro lugar dentro de nossa casa, seja ela um SESMT em uma organização ou a
partir de um grande esforço das entidades que nos representam.
A verdade é que ou revemos ou deixaremos que a Segurança e Saúde no Trabalho caminhe para outros espaços, ou seja, reavaliamos a quem pertence os anéis ou ficaremos sem os dedos. Não é uma escolha difícil. Difícil mesmo é a vaidade humana.

Cosmo Palásio de Moraes Júnior
- Técnico de Segurança do Trabalho e Coordenador do egroup SESMT
cpsol@uol.com.br
www.cpsol.com.br

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