quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Escândalo

COLUNA DA REVISTA O GLOBO (28/08/2011)
Artur Xexéo



Quando foi que aconteceu? 1968? 69? Por aí. A garota era do Rio de Janeiro, o que, para a tradicional sociedade mineira, significava que era uma garota avançada. Chegou em Juiz de Fora cheia de banca e com um guarda-roupa de arrasar quarteirão. A peça-chave do tal guarda-roupa era uma miniblusa, o que hoje seria chamado de top. A miniblusa escondia muito mais partes do corpo do que o top de hoje, mas também deixava o umbigo de fora. Em seu primeiro dia na cidade, ela foi passear na Rua Halfeld, programa-padrão de todos os adolescentes do lugar. Não conseguiu dar dez passos. Uma turba masculina juntou-se ao redor dela, gritando impropérios. A garota teve que se esconder numa loja de joias, onde conseguiu uma peça de roupa emprestada que cobria a parte do corpo feminino que causava tanto furor junto ao homem mineiro. Escândalo! Escândalo!

Outro dia, abri o jornal e soube que o ministro das Cidades, Mário Negromonte, está sendo acusado de oferecer mesada de R$ 30 mil a deputados do PP para forçar a volta do colega Nelson Meurer à liderança do partido. Alago me intrigou: se é mesada, é para ser paga todo mês. Até quando duraria essa bondade do ministro? Escândalo! Escândalo!

Também não me lembro muito bem de quando isso aconteceu. 1962? 63? O fato é que uma loja de Copacabana lançou o monoquíni. O maiô de duas peças nem bem tinha sido assimilado pelos frequentadores da praia, e já vinha uma loja lançando o de uma peça só, a de baixo. A notícia rendeu uma marchinha de carnaval para Marlene (“A garota monoquíni/ que beleza de menina/ foi à praia sem confete/ só levou a serpentina) e a indignação da população carioca mais moralista. O tal monoquíni nem era tão revelador assim. A parte de baixo, tecnicamente única, era enorme e dela saíam suspensórios tão largos que praticamente cobriam toda a parte de cima, aquela que supostamente ficaria livre. A má repercussão fez com que a loja suspendesse as vendas em dois dias. Escândalo! Escândalo!

O mesmo jornal me informa que o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao ser indagado, em audiência pública na Câmara dos Deputados, se tinha pegado carona no avião de uma empreiteira que trabalha para o Governo, respondeu: “Não posso descartar.” As ligações perigosas entre ministros e empreiteiras não me espantam mais. Mas as respostas evasivas dos ministros, estas ainda me assustam. Escândalo! Escândalo!

Outra indumentária feminina que causava furor na década de 60 era a calça Saint Tropez. De cintura baixa, ela deixava à mostra o umbigo — a mulher daquele tempo estava louca para liberar o umbigo. Era tão polêmica que o Cinema Pax, ali em Ipanema, proibiu a entrada de espectadoras que a estivessem vestindo. Muita mulher foi barrada no Pax. Escândalo! Escândalo!

Moral da história; já não se faz escândalo como antigamente.

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