sexta-feira, 4 de maio de 2012

O papel do gestor ambiental nas organizações



sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Por Fernanda Faustino


A demanda por bons profissionais em qualquer setor de uma organização é um fator intrínseco para que a empresa chegue ao sucesso. Essa demanda cresceu consideravelmente na área ambiental nas últimas décadas, impulsionada pelo avanço de leis e normas que regem a conduta das organizações nesse segmento.

Com isso, a figura do gestor ambiental ganha cada vez mais importância nesse cenário, pois é ele quem analisa desde os processos que precisam ser implementados até as consequências dessas ações para a empresa e para a sociedade. O papel do gestor é cuidar da parte ambiental da empresa, administrando os diferentes recursos para o atendimento das questões relativas ao meio ambiente exigidas pelos diversos órgãos fiscalizadores.

As atribuições são as mais variadas. É ele quem realiza a gestão de resíduos da empresa, o controle de insumos adequado e ambientalmente correto, o treinamento dos colaboradores nas questões ambientais, o auxílio aos setores de planejamento e engenharia na escolha de locais adequados para futuras expansões, bem como o atendimento de solicitações referentes à qualidade ambiental, orientando sobre as exigências legais existentes, a realização de atividades internas e externas que visem à preservação e, mais do que tudo, a integração da comunidade para a melhoria da imagem da empresa.

De acordo com Marcos Alberto de Oliveira, coordenador do curso de pós-graduação em Gestão para a Sustentabilidade da Faap - Fundação Armando Álvares Penteado, a demanda para esse profissional no mercado de trabalho é crescente, à medida que as organizações têm adotado uma postura voltada ao desenvolvimento sustentável. "O gestor ambiental surgiu da necessidade das empresas considerarem a conservação do meio ambiente em suas estratégias de negócios, por isso, ele ganha, cada vez mais, espaço no mercado, conforme as empresas se adequam às novas legislações", explica. "Ao atuar na elaboração de projetos voltados à conservação do meio ambiente, esse profissional contribui para que a organização tenha uma gestão voltada para a sustentabilidade."

Marcos Oliveira, da Faap: "O gestor ambiental surgiu da necessidade das empresas considerarem a conservação do meio ambiente em suas estratégias de negócios, por isso, ele ganha, cada vez mais, espaço no mercado, conforme as empresas se adequam às novas legislações"


Outro ponto importante, apontado por Oliveira, é a profissionalização dos gestores. "A capacitação desses profissionais é um fator fundamental, pois isso faz com que ele compartilhe informações e conhecimentos sobre as metodologias e ferramentas utilizadas no gerenciamento ambiental com os demais profissionais da empresa, além de aplicar as melhores práticas de planejamento, execução e controle de projetos voltados à sustentabilidade", explica.

Opinião do Gestor - Para Péricles de Oliveira, diretor de Meio Ambiente, Gestão de Saúde e Segurança da Siemens no Brasil, é necessário que o futuro gestor tenha algumas características imprescindíveis que irão fazer parte do cotidiano da profissão. "Um gestor ambiental não pode ser encontrado em uma mesa de trabalho, por exemplo, pois precisa ser uma pessoa extremamente proativa e participativa, que tem de se envolva em todos os setores da empresa. Quando falamos desse profissional, não falamos de uma pessoa que cuida de um setor específico, mas, sim, de uma pessoa que se envolve de forma abrangente com o negócio e seus colaboradores, além de ter muito amor pela profissão."

Ele relata que dentre as dificuldades que o profissional enfrenta durante a carreira, a maior delas é o conformismo. "A maior dificuldade do gestor está nele mesmo", coloca. Para Oliveira, é necessário que um gestor tenha habilidade de lidar com pessoas e ser um líder nato. "Para que as pessoas cuidem e se preocupem com o meio ambiente, é preciso cuidar delas primeiro", observa.

Segundo ele, a demanda por bons profissionais de gestão ambiental tende a crescer cada vez mais. "Tivemos, aqui na Siemens, algumas pessoas que não preencheram, sequer, os quesitos mínimos para esta área de atuação", expõe.

Para ele, as organizações que não implantarem a área da gestão ambiental em suas corporações, em curto e médio prazo, futuramente irão sofrer as consequências pela própria exigência da sociedade. "A situação está mudando com o aumento da consciência ambiental em toda a sociedade. Hoje em dia, por exemplo, dependendo de onde a pessoa estiver, não se pode fumar, pois já existem, inclusive, normas com essa exigência", comenta.

Péricles de Oliveira, da Siemens no Brasil: "Um gestor ambiental não pode ser encontrado em uma mesa de trabalho, por exemplo, pois precisa ser uma pessoa extremamente proativa e participativa. Essa pessoa deve se envolver de forma abrangente com o negócio e seus colaboradores, e ter muito amor pela profissão"

De acordo com Mário Roberto Bazarra, doutor em Engenharia Ambiental, o surgimento do gestor ambiental não possui uma linha bem definida como a de outros profissionais, que têm suas características e atividades bem delineadas desde a existência da profissão.

O que se pode perceber, segundo ele, é que, ao longo da história, este profissional já existia sem ter, de fato, esta denominação. "Até hoje, existem profissionais que exercem a função do gestor ambiental, mas não são reconhecidos como tal", observa.

A formação necessária, segundo ele, pode ser em nível de especialização nos diversos cursos de Gestão Ambiental, porém há cursos de graduação que também capacitam estes profissionais. "Tudo dependerá da empresa. Se ela tiver a necessidade de interligar alguns setores pode, por exemplo, ser interessante um profissional com formação em segurança do trabalho - técnico de segurança do trabalho - e que tenha o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental", explica.

Para Bazarra, o gestor ambiental deve ser, antes de tudo, o elo entre os diversos setores da empresa, pois a visão holística deste profissional pode auxiliar na resolução de problemas que muitas vezes não são percebidos pelos outros. "O que se espera é que este profissional tenha uma visão do conjunto, promovendo e incitando os outros funcionários, dentro de sua especialidade, a resolverem os problemas em conjunto e em prol de uma melhoria comum", atesta. "Acredito que a maior e melhor ferramenta desse profissional seja o poder de observação e o conhecimento das leis e normas pertinentes ao trabalho desenvolvido. Isto, aliado a um apoio real por parte da empresa, deverá resultar em benefícios para a mesma", avalia.

A inter-relação do meio ambiente com a segurança do trabalho

Bazarra informa, ainda, que o que mais se vê nas empresas é a junção da área de gestão ambiental com a de segurança e saúde do trabalho, o que, na verdade, ajuda a reduzir gastos para o atendimento das necessidades. Porém, para que isso seja uma opção adequada, dependerá da estrutura da empresa, do tamanho da mesma, etc. Conforme ele, o que se tem observado é uma procura enorme por parte de profissionais da área de segurança do trabalho pelos cursos das áreas ambientais, muitos por exigência da própria empresa e outros pela observação da necessidade do mercado. "Particularmente, acredito que a junção seja benéfica, porém a empresa deve fazer aportes a ambas as partes e não prejudicar uma em detrimento da outra", orienta.

Outra possível formação do gestor pode ser como Tecnólogo em Processos Ambientais. De acordo com o Plano de Desenvolvimento Institucional da Faculdade SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, de Tecnologia Ambiental, esta formação consiste em fazer com que o profissional se torne apto "a planejar, gerenciar e executar ação ambientais, bem como a realizar pesquisas tecnológicas visando a um desenvolvimento sustentável".

Segundo Fernando Codelo Nascimento, professor titular das Faculdades de Graduação e pós-graduação do SENAI, esta atividade é importante, pois supre uma necessidade do mercado de um profissional cujo perfil represente uma interface entre a linguagem do trabalho e da educação, através da identificação de competências básicas, específicas e de gestão.

Codelo, do SENAI: "A visão interdisciplinar é importante, pois contribue para a formação das competências básicas e específicas que nortearão a formação do tecnólogo em Processos Ambientais"

Ele explica que dentre as atribuições de um tecnólogo em Processos Ambientais estão: monitoramento e controle de poluição do ar, água e solo; auditoria ambiental; desenvolvimento de tecnologia de controle e prevenção da poluição; pesquisas acadêmicas; desenvolvimento de políticas públicas e privadas de controle e prevenção ambiental; licenciamento ambiental; operação de equipamentos de controle e monitoramento ambiental; desenvolvimento de indicadores ambientais; educação ambiental - elaborando programas e ministrando cursos; gestão ambiental de sistemas e processos ambientais - normas da serie ISO; dentre outras.

Para Codelo, é importante que o curso dê ao aluno a dimensão da visão interdisciplinar. "Em relação à Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental, pode-se dizer que os cursos têm visão interdisciplinar e transdisciplinar, e não apenas multidisciplinar", relata. "Estas visões são importantes, pois contribuem para a formação das competências básicas e específicas que nortearão a formação do tecnólogo em Processos Ambientais", observa.

Thales Batista Maciel, que concluiu a formação no curso de Tecnólogo em Processos Ambientais, acredita que o mercado é favorável para os novos profissionais pela questão da sustentabilidade. "As empresas estão mudando o pensamento para conseguir se manter e ganhar espaço no mercado", afirma.

Para ele, a maior dificuldade é em relação à conscientização das pessoas sobre a importância das questões ambientais. "Algumas pessoas têm restrição em mudar quando se trata de adotar condutas ambientalmente adequadas. Uma das funções do gestor é incorporar essa mudança à cultura das organizações", conclui.

O professor Alcir Vilela Jr., coordenador de graduação das áreas de Meio Ambiente, Saúde e Educação do Senac, destaca um aspecto relevante de responsabilidade do gestor, que é resolver a questão: "como que, resolvendo o problema de meio ambiente na organização, eu consigo fazer com que a empresa saia na frente?". Para Vilela Jr., essa questão demonstra que buscar maximizar oportunidades e ter uma visão geral é muito importante para o gestor ambiental. "Além disso, nessa área é impossível atuar sozinho. Tem que gostar de trabalhar em equipe", enfatiza.

A capacidade de negociação para atuar em situações de conflitos, segundo ele, também fará parte do dia a dia do gestor "Toda vez que falamos em meio ambiente, estamos falando de uma situação a qual todos têm direito", ressalta. "Quando um especialista está fazendo um designer de um carro ele pensa no consumidor. O gestor, entretanto, deve pensar, além de no consumidor, na comunidade do entorno, nas ONGs, nos acionistas e nos concorrentes. O profissional tem de ter muita habilidade para ouvir interesses de ambos os lados e é natural que se tenha conflitos de interesses nessa área. Quem gosta desse tema vai se dar muito bem", finaliza.

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