terça-feira, 18 de março de 2014

Morre Charlie Porter aos 63 anos


Tradução: Elias Luiz - Fonte: NYTmes
16 de março de 2014 - 14:45

Charlie Porter transportando cargas até o Vale do Weasel em direção aoMonte Asgard,
Ilha Baffin, no Canadá, em 1975. (Barnaby Porter / cortesia foto)


Quando Charlie Porter apareceu no Vale de Yosemite no início dos anos 70
e começou a abrir novas vias de escalada na imponente parede de pedra
monolítica conhecida como El Capitan, ele era um típico homem misterioso,
um estranho ao grupo descolado em sua maioria californianos que fizeram
de Yosemite o centro da escalada do mundo.

Ele veio do leste dos Estado Unidos - nasceu em Massachusetts - e não
tinha crescido no esporte como tantos outros escaladores da sua geração,
mas suas habilidades pareciam de outro mundo.

Em 1972, ele e outro escalador, Gary Bocarde, estabeleceram a Shield,
que se tornou talvez a mais famosa via de El Capitan. Neste mesmo ano,
ele fez a primeira ascensão gravada da face sudeste da parede de
El Capitan, e fez sozinho, e nomeou a via de Zodíaco. Em 1973,
ele escalou a face sudeste novamente por um caminho diferente,
com diferentes desafios, chamando-a de Tangerine Trip, e no verão de
1974 havia estabelecido dois outros caminhos, Mescalito e Grape Race.

Estes eram feitos de nível mundial no montanhismo, mas se o Sr. Porter,
que morreu aos 63 anos no dia 23 de fevereiro, no Chile, era um mistério,
então, em muitos aspectos ele continuou sendo.

Um homem reticente que não era de alardear suas conquistas e que
muitas vezes partiu para a vida selvagem sozinho, sem uma câmera
ou um notebook, e Yosemite foi apenas o início de uma vida aventureira
que o levou a alguns dos mais remotos lugares do mundo.


Entre eles destaca-se o Monte Asgard, na ilha de Baffin, no norte do Canadá,
que e escalou sozinho, e no Cabo Horn, na ponta da América do Sul, ele foi
o primeiro a remar de caiaque a perigosa Passagem do Drake, entre América
do Sul e Antártida.

“Eu me lembro quando perguntei isso a ele, e ele apenas disse: ‘Oh,
foi muito bom. Foi um dia calmo’”, disse ao seu meio-irmão, Barnaby
em uma entrevista.

Duane Raleig, editor chefe da Rock and Ice, uma
revista de escalada e montanhismo, diz sobre Porter:
“Provavelmente um dos grandes aventureiros do século 20.
Você seria duramente pressionado para encontrar alguém
do segmento outdoor como Charlie Porter”, disse Raleigh.

Na viagem a ilha de Baffin, no Canadá, Raleigh disse, "Sr. Porter,
sem telefone e sem rádio, caminhou por 100 quilômetros, através de
geleiras, carregando todos os seus equipamentos, e solando esta enorme
parede do Monte Asgard por nove dias, chegou ao topo em meio a uma
tempestade. Na volta ele ficou sem comida e ainda tinha que caminhar
por 10 dias com os pés congelados até um local seguro”.

Um capitão autodidata e construtor de barcos - como também era um
escalador autodidata - Sr. Porter, dedicou-se ao trabalho científico,
no extremo sul do Hemisfério Ocidental por 20 anos ou mais.

Ele fez levantamentos botânicos e oceanográficos da costa sul-americana,
orientando cientistas pelos labirintos dos fiordes chilenos e pelos canais no
arquipélago de Terra do Fogo. Nos últimos anos, ele ajudou a conduzir
estudos climatológicos - a criação de estações metereológicas e redes de
monitoração de geleiras - em associação com o Instituto de Mudanças
Climáticas da Universidade de Maine.

Barnaby Porter, que vive em Walpole, no estado do Maine nos Estados Unidos,
confirmou a morte do seu meio-irmão Charlie Porter, em consequência de um
ataque cardíaco em sua casa, em Puerto Williams, no Chile, no Canal de Beagle
próximo ao Cabo Horn.

“Ele sempre alegou que tinha a casa mais ao sul do Hemisfério
Ocidental”, disse Barnaby

Charles Talbot Porter, chamado por Talby em sua família, nasceu em
12 de junho de 1950, em Nashua, Nova Hampshire, do outro lado
da fronteira do estado de Pepperell, em Massachusetts, onde cresceu.
Seu pai, também chamado de Charlie, foi o médico da cidade, sua mãe,
Barbara Cooney, foi autora de livros infântis e escreveu e ilustrou o
livro “Miss Rumphius”.

O jovem Charlie, de acordo com o seu irmão, foi um pouco solitário
e que depois se entreteria com projetos excêntricos, ele uma vez construiu
um túnel de vento para testar os diversos modelos de seus planadores.
Ele jogou futebol americano, hóquei, beisebol como todo menino e praticou
remo no colégio. Ele nunca se formou na faculdade, embora o seu irmão
disse que ele poderia ter dado aulas na Universidade de Boston e
no MIT. Seu interesse por montanhismo, disse Barnaby, foi catalisado
após liderar o resgate de estudantes presos em Huntington Ravine em
Mount Washington.

Sr Porter, viveu durante um período na casa que construiu para a sua mãe
no final dos anos 70, em Walpole, era casado e se divorciou três vezes.
Além de seu meio-irmão, ele deixa uma irmã, Phoebe, e uma meia-irmã, Gretel.


Barnaby Porter disse que, como um construtor de barcos, o seu irmão uma
vez construiu um veleiro de aço de 32 pés, começando com um casco de aço
que tinha transportado para a casa de seus pais em Massachusetts. Ele
trabalhou nele em sua garagem. Então sem nenhuma experiência em vela,
além de uma prática de algumas corridas em Salem e essencialmente ter
aprendido sozinho, ele levou o barco de Maine até a costa leste, no Golfo
do México, através do Canal do Panamá e desceu a costa do Pacífico na
América do Sul até o Chile.


Em 2010, Sr. Porter foi capitão de um barco que partiu das Ilhas
Falkland (Ilhas Malvinas) para um ponto remoto do Atlântico Sul,
o arquipélago de Tristão da Cunha, transportando cientistas
suecos que estavam realizando pesquisas do clima, a viagem de
regresso ao Uruguai durou 33 dias através de mares revoltos. O líder
da expedição, Svante Bjorck, geólogo da Universidade de Lund,
estava a caminho para o sul do Chile no mês passado para trabalhar
com o Sr. Porter novamente - quando recebeu a notícia de sua morte.


“A presença de Charlie aqui é tão óbvia que ele tem estado na
minha mente durante toda expedição”, escreveu em um email, Bjorck
direto do Canal de Beagle. “Seu entusiasmo e inspiração tem sido vital.
Acho que agora seremos capazes de reconstruir detalhes do nível do mar aqui
que é completamente novo para esta região, o lugar favorito de Charlie na terra.
Então, vamos, é claro, dedicar esses estudos a Charlie e em sua memória.”

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